Mesmo com a boa fase do mercado de PCs e a liderança nas vendas, a Positivo Informática sofre com a queda de cerca de 70% no valor de suas ações.
A paranaense Positivo Informática conseguiu nos últimos cinco anos uma façanha alcançada por poucas empresas. De um negócio de médio porte, com faturamento de 87 milhões de reais em 2003, passou a uma potência de quase 2 bilhões de reais. Assumiu a dianteira do mercado brasileiro de computadores e, no auge das vendas de PCs, em 2006, estreou na Bolsa de Valores de São Paulo como a menina dos olhos dos investidores. Não era para menos. Com o mercado de equipamentos crescendo mais de 30% ao ano — impulsionado pela queda do dólar e pelo corte dos impostos trazido com a Lei do Bem —, a Positivo já conseguia atacar com vigor a classe C, principal fonte de oportunidades em volume de vendas. Os números acompanharam as expectativas em torno da empresa: os 23,50 reais por ação estabelecidos no IPO se multiplicaram. Onze meses depois da abertura de capital, a Positivo havia duplicado seu valor na bolsa. Mas o encanto que parecia perene entre investidores e a companhia durou menos do que se imaginava. Os papéis da Positivo começaram a perder valor no início deste ano, com a fuga de investimentos das small caps, e desde então não param mais de cair. As ações da Positivo desvalorizaram-se quase 70%, chegando a valer 11 reais no mês de agosto — cenário inimaginável para a empresa, que, até então, só colecionava bons resultados.
Falta de sorte talvez seja a melhor definição para o momento da empresa, na avaliação dos analistas de mercado. “A Positivo vive uma combinação infeliz de fatores que afetam as ações”, diz Luciana Leocádio, chefe de análise da Ativa Corretora. Segundo a especialista, o horizonte da empresa começou a escurecer no fim do ano passado, quando o estado de São Paulo aprovou a mudança da alíquota de impostos para a venda de computadores. O governo paulista reduziu de 12% para 7% o crédito em ICMS oferecido ao varejista na compra de computadores fabricados em outros estados. A intenção era eliminar uma suposta desvantagem dos fabricantes paulistas, que geravam créditos de apenas 7% aos varejistas. O golpe foi duro para a Positivo. Na época, cerca de 30% de seus desktops e notebooks tinham como destino revendedores paulistas. Em fevereiro, a Positivo enfrentou o cancelamento da licitação do Ministério da Educação para a compra de 150 000 laptops educacionais, contrato avaliado em cerca de 100 milhões de reais. “Para completar, o resultado do quarto trimestre de 2007, também divulgado em fevereiro, não foi tão pujante quanto antes, refletindo até uma ligeira perda de participação de mercado”, afirma Luciana. No período, a companhia foi responsável por 33,6% das vendas do varejo, ante 35% no quarto trimestre de 2006.
Os meses que se seguiram foram de observação pelo mercado e, apesar de o faturamento ter crescido 10%, atingindo 550 milhões de reais no segundo trimestre, as ações não recuperaram seu valor. Duas preocupações recaíram sobre os investidores: a capacidade da Positivo em lidar com o acirramento da concorrência e a habilidade da empresa para manter suas margens mesmo com o preço dos PCs em queda livre. No segundo trimestre, a empresa atingiu 13,5% de margem de lucro. O valor é bem superior à média internacional, que varia de 4% a 5%, mas foi menor do que o da própria Positivo no segundo trimestre de 2007, de 17,7%, segundo Alan Cardoso, analista de investimentos da Ágora Corretora. “A grande dúvida do investidor passou a ser como a companhia poderia sustentar suas margens no futuro, em um ambiente de competição crescente”, diz. A americana Dell, que estreou no varejo brasileiro no fim do ano passado e tem acordos com redes como Ponto Frio e Wal-Mart, estrutura a expansão para outros canais de vendas e é uma das empresas que devem incomodar — ou, ao menos, fazer com que a Positivo gaste mais. “Os fabricantes internacionais têm muito capital para investir em divulgação da marca. Isso pode fazer com que a Positivo também precise elevar suas verbas de marketing”, afirma Cardoso. Os investimentos da empresa em ações de divulgação da marca já dão sinais de crescimento: representavam 5,7% da receita líquida no quarto trimestre de 2007 e, no segundo trimestre, atingiram 7,5% desse total.
Apesar dos tombos da Positivo na bolsa, os executivos da empresa acreditam que ela já tenha dado os passos operacionais necessários para se reerguer. “Nossas ações se valorizaram muito no início e, para quem está em cima, o tombo sempre é maior”, diz Hélio Rotenberg, presidente da empresa. Entre as iniciativas que devem ter boa repercussão perante os investidores, na avaliação de Rotenberg, estão as negociações com os fornecedores externos de componentes em virtude do crescimento do volume de computadores fabricados. Com a fábrica de Manaus, que já está operando, a Positivo ampliou sua capacidade de produção de 225 000 para 240 000 desktops e notebooks por mês. Outra aposta é a verticalização da produção. “Hoje conseguimos fabricar internamente até metade do volume de placas-mãe e monitores que consumimos. Isso nos permite reduzir os custos, já que não precisamos pagar as margens de lucro dos fornecedores”, afirma Rotenberg.
Essas iniciativas mostram que a Positivo está buscando melhorar sua eficiência operacional, segundo os analistas. Por outro lado, o caminho a percorrer ainda sinaliza alguns desafios. Um deles é provar que a diversificação da linha de produtos não desvia a atenção da companhia. Hoje a Positivo vende desde os computadores mais simples, a partir de 800 reais para atacar a classe C, até notebooks sofisticados, vendidos por cerca de 3 000 reais. Em maio, a companhia continuou adicionando aparelhos à sua linha com o Mobo, notebook ultraportátil com tela de 7 polegadas e com preço de cerca de 1 000 reais. Na segunda quinzena de agosto, anunciou sua entrada no segmento de brinquedos, com bichos de pelúcia que permitem interatividade com programas de computador. “Existe uma linha muito tênue para que os fabricantes que buscam diversificar suas linhas não desvirtuem suas operações”, diz Reinaldo Sakis, gerente de pesquisas da consultoria IDC na América Latina. Para Rotenberg, a vasta gama de produtos não interfere naquilo que a Positivo considera seu negócio principal. “Estamos aprendendo com a diversificação, mas somos fundamentalmente uma empresa de PCs”, afirma.
Outra missão obrigatória é estancar a queda nas margens de lucro. Na avaliação de Cardoso, da Ágora, o ideal seria a Positivo conseguir sustentá-la em torno dos 12%. Isso representa um desafio especialmente quando crescem as despesas. A Positivo tem hoje 1,5 milhão de computadores em garantia. Para isso, precisa remunerar e treinar seus mais de 400 parceiros. As despesas com garantia e assistência técnica dobraram desde o segundo trimestre de 2007, passando de 12,6 milhões de reais para 25,1 milhões de reais. Para melhorar as margens e, com isso, incentivar a elevação dos papéis, a Positivo tem como pilares de atuação ganhar em escala, fortalecer a marca e melhorar a capacidade operacional. Além disso, estuda um projeto de internacionalização entre três e cinco anos, para o qual já contratou uma consultoria. “Chegamos a ficar preocupados com a situação do mercado, mas hoje acreditamos que nossa estratégia é suficiente para mostrar que a empresa está bem”, diz Rotenberg. Para quem estava acostumado só a ganhar, a bolsa mostrou que também pode ser dura em suas lições.Camila Fusco-Exame