segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008


A batalha de relações públicas para colocar um minilaptop de 7 polegadas nas mãos das crianças nas escolas está prestes a ser perdida no Brasil – seja com XO, seja com ClassMate PC.
Quando Nicholas Negroponte levantou a causa dos laptops de 100 dólares, criou um slogan com ótimos efeitos a curto prazo e péssimos a longo prazo. No curto prazo, incendiou a imaginação das pessoas com uma cruzada de alta voltagem moral. No longo, apontou para uma impossibilidade, talvez um fracasso.
Para chegar aos 100 dólares, se pressupôs que governos dos países pobres da África, Ásia e América Latina fossem abrir os cofres, de uma hora para outra, despreendidamente, e comprassem milhões e milhões de máquinas para suas crianças em idade escolar. Claro, nessas regiões os tiranos são esclarecidos, os governos democráticos se pautam só pelo bem público e ninguém quer uma graninha para fazer uma compra em nome do Estado, certo?
Claro que a vida se mostrou mais complicada que esse devaneio do MIT. Mas nem por isso a idéia de dar um tremendo empurrão na educação pública de crianças pobres, colocando um laptop em suas mãos, deixou de ser uma daquelas idéias luminosas em que vale a pena prestar a atenção.
Pondo os pés no chão: hoje não há laptop de 100 dólares para governo algum comprar. Seja XO, da OLPC, seja ClassMate, da Intel, produzidos aqui ou na China. Para salvar a proposta de levar maquininhas úteis como essas para escolas brasileiras, o governo poderia deixar isso claríssimo, em primeiro lugar. Em segundo, na hora de fazer suas compras, separar o que é computador de frete, instalação, treinamento e outros serviços adicionais das licitações.
Do jeito em que as coisas estão, o governo estimula comparações desfavoráveis com uma idéia romântica, que nunca se materializou – um notebook de 100 dólares – e complica ainda mais as coisas ao tentar emplacar, junto, um pacote de serviços de logística complicadíssima, que obviamente custa dinheiro. Nessa confusão, enxergar transparência – se é que existe – fica difícil. Se o Uruguai compra só o hardware, sem serviço algum, está feita a comparação desfavorável – e desconfiada.
Boa vontade em relação a compras públicas, hoje em dia, ninguém mais tem. A imagem de Maurício Marinho contando dinheiro no Correios está longe de se desvanecer, e se estivesse já estaria substituída à altura pelo atual escândalo dos cartões de crédito. É nesse ambiente que a compra dos laptops escolares é examinada. E é nesse clima que as maquininhas podem afundar se os parâmetros da conversa não forem mudados, sempre com transparência máxima.


Postado por - Sandra Carvalho - 06/02/2008 - 14:43

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