Laptops ultraportáteis de baixo custo inauguram outra categoria de computadores e abrem um novo ciclo de inovações na indústria.
Quando a fabricante taiwanesa Asus lançou seu mininotebook de baixo custo, o EeePC, um ano atrás, boa parte da indústria encarou o equipamento apenas como uma curiosidade. O computador, do tamanho de um pequeno caderno, com tela e teclado apertados e pouca capacidade de memória, foi considerado por muitos produtores pouco atraente aos consumidores. O passar do tempo, porém, mostrou que os céticos estavam redondamente enganados: menos de seis meses após o lançamento, o EeePC atingiu 1 milhão de unidades vendidas. Num curtíssimo espaço de tempo, a experiência da Asus foi copiada por todos os grandes fabricantes e inaugurou uma nova categoria de computadores. A novidade se encaixa entre os smartphones e os laptops tradicionais. Ganhou um nome curioso, netbook, corruptela da palavra “notebook” que ao mesmo tempo indica um dos grandes trunfos desses aparelhos: conexão com a internet. O crescimento dos netbooks tem sido explosivo. Segundo a consultoria Gartner, serão vendidas já neste ano 5,2 milhões de unidades. Em 2012, as vendas devem chegar a 50 milhões. “Foi uma idéia que sacudiu o mercado”, diz Rob Enderle, presidente da consultoria norte-americana Enderle Group.
Revolução não é uma palavra exagerada para definir o momento atual da indústria de PCs. Para muitos, os netbooks representam a maior mudança que os fabricantes enfrentam desde a popularização dos computadores portáteis. A explicação está na relação entre custo e tamanho. Tradicionalmente, equipamentos menores e mais leves tinham como característica ser mais caros, justamente em virtude da exigência de processos produtivos mais complicados. Colocar todos os componentes de um computador em uma máquina de dimensões reduzidas demandava mais desenvolvimento do que o convencional. Para produzir os netbooks, porém, a indústria conseguiu inverter a equação. Apesar de muito pequenos, eles custam barato. Parte da explicação está no uso de peças mais simples (veja quadro abaixo) e parte em um esforço de inovação para atingir uma nova faixa de preço. “A questão principal que essa categoria está disseminando na indústria é como miniaturizar as peças e ainda fornecer um computador de baixo custo”, diz Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Informática, que lançou seu netbook, o Mobo, no primeiro semestre deste ano, ao custo de 999 reais. A faixa de preços dos modelos mais simples ainda deve cair. As telas de LCD, um dos itens mais caros em qualquer equipamento eletrônico, já são vendidas por valores 13% mais baixos que os do começo do ano, segundo a consultoria especializada DisplaySearch.
A Asus foi pioneira com o EeePC, mas as tentativas de criar uma máquina ultraportátil — e funcional — vinham de vários anos. Foram inúmeras as experiências para chegar a um projeto do gênero, mas a maioria fracassou. Os equipamentos tinham ora desempenho abaixo da crítica, ora teclados e telas frágeis demais. Quando o hardware era confiável, o preço passava facilmente dos 2 000 dólares. “O grande erro da indústria nesses projetos anteriores foi tentar colocar funcionalidades avançadas em um corpo que talvez não as comportasse”, afirma o consultor Enderle. A grande virada dos netbooks foi uma reconfiguração das ambições do passado: em vez de tentar simplesmente reduzir um laptop, por que não criar um modelo um pouco menos sofisticado? Os netbooks têm, por exemplo, um espaço para armazenamento de arquivos menor que o iPod — mas grande o suficiente para planilhas eletrônicas e documentos de texto. Por outro lado, seu processador, mais eficiente, consome menos energia. A Intel lançou uma família de chips batizada de Atom especificamente para uso nessas pequenas máquinas. O chip consome apenas um nono da energia de um modelo convencional, o que significa períodos mais longos de uso entre as recargas da bateria.
Os netbooks também se inspiram nos laptops educacionais, como o XO, do famoso — mas fracassado — projeto do laptop de 100 dólares. Apesar do propósito educacional, cerca de 70% das vendas desses equipamentos no mundo devem ser destinadas a consumidores finais, desde aqueles que estão comprando o primeiro computador até os que buscam uma segunda máquina. No Brasil, a expectativa é que o consumidor desse produto seja predominantemente os usuários mais maduros, que já têm computadores e procuram uma máquina alternativa para transportar com mais facilidade. A Positivo Informática aposta nas classes A e B e já chegou a adaptar seus modelos para isso. Na segunda quinzena de setembro, a empresa apresentou outros dois modelos, com teclado e tela mais espaçosos — de 8,9 e 10 polegadas — e preço de até 1 500 reais. “Entendemos que os consumidores dispostos a comprar esse produto já são usuários mais avançados e estão dispostos a pagar mais por conforto”, diz Rotenberg. Já a HP iniciou as vendas de seus netbooks buscando o mercado comprador das empresas. Segundo Cláudio Carneiro, gerente de notebooks corporativos, a intenção da companhia ao longo dos próximos meses é levar os modelos ao varejo.
A ascensão dos netbooks indica outra tendência importante no mundo dos computadores. Os PCs portáteis estão rapidamente tomando espaço dos computadores de mesa. Os grandes volumes ainda estão concentrados nos laptops tradicionais, é claro. Na Europa, as vendas do segmento cresceram 60% no segundo trimestre do ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Até mesmo nos Estados Unidos, que têm um mercado maduro, as vendas de laptops cresceram quase 18%, enquanto as de desktops caíram 4%. Mas é nos países que chegaram mais tarde à era digital de massa, como o Brasil, que a ascensão da mobilidade é surpreendente. Muitos consumidores brasileiros nem sequer terão um PC de mesa em casa: seu primeiro computador pessoal já será um laptop. O mercado brasileiro para notebooks está aquecido como nunca. Segundo pesquisa da consultoria IT Data, 71% dos entrevistados que pretendem comprar um computador nos próximos seis meses vão optar por notebooks. Além disso, já no próximo ano, as vendas de computadores portáteis ultrapassarão as de desktops: serão vendidas 8,5 milhões de unidades, ante 7 milhões de PCs de mesa.
Avanço da mobilidade
Existe bastante otimismo também em relação ao sucesso dos netbooks no Brasil, embora os números por aqui ainda sejam modestos. A IT Data calcula que os pequenos computadores respondam por cerca de 2,2% do mercado de portáteis. Com a queda nos preços, os netbooks podem se tornar a melhor porta de entrada para quem não tem condições de comprar um computador mais potente. A mesma expectativa existe em outros países emergentes, como China e Índia, cuja enorme população só agora começa a desfrutar do mundo digital. Mas existe um obstáculo de marketing a vencer, de acordo com Ivair Rodrigues, diretor-geral da IT Data. “Atraídos pelos preços, muitos consumidores que nunca tiveram um computador acabam escolhendo os ultraportáteis e ficam frustrados.” Para Rodrigues, é preciso haver um esforço de marketing para deixar claro que o netbook tem certas limitações — não é o equipamento ideal para quem quer consumir músicas e vídeos, por exemplo. Para ganhar uma fatia significativa das vendas previstas, os fabricantes também precisarão ser criativos para se diferenciar dos demais. “Uma forma de impulsionar as vendas será por meio de parcerias com operadoras de telefonia para embutir placas de acesso à internet e aproveitar seus canais de venda”, diz Enderle. No Brasil, a Asus tem acordo com a TIM para vender os modelos com modem 3G embutido, o que permite que o PC use a rede de telefonia celular para conectar-se à internet. A Positivo está em negociações similares com operadoras móveis. Esse tipo de associação desafia as operadoras fixas e as TVs pagas, tradicionais vendedores de banda larga. O impacto do netbook na bilionária indústria da tecnologia, ao que tudo indica, será muito maior do que sugere seu diminuto tamanho.Camila Fusco
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
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