quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Dólar assusta indústria de eletrônicos

Empresas que atuam na Zona Franca de Manaus estão em alerta após a súbita valorização do dólar.
A Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) acompanha a recente disparada da moeda norte-americana e a crise nos mercados internacionais, "mas sem o sentimento de desastre à vista".
A avaliação é do coordenador-geral de estudos econômicos e empresariais da entidade, José Alberto Machado, que ponderou, no entanto, que é preciso ficar atento à possível falta de crédito ao consumidor final e ao caminho que as exportações chinesas seguirão com a desaceleração norte-americana.
"A disparada do dólar, na nossa análise, é conjuntural e o Banco Central tem mecanismos para que ele se estabilize em patamares aceitáveis", afirmou o executivo em entrevista à Reuters nesta quarta-feira.
Segundo ele, as oscilações da moeda norte-americana tem dois efeitos práticos para a indústria instalada na Zona Franca: encarece a compra dos insumos importados, mas favorece a competitividade do produto final produzido localmente.
Na avaliação de Machado, "uma coisa compensa a outra". Ele lembra que a média de nacionalização dos produtos fabricados em Manaus é de 55 por cento, o que equivale dizer que "apenas 45 por cento dos insumos são comprados fora" e ficam à mercê da alta recente do dólar.
A indústria se preocupa, segundo o coordenador, com uma possível retração na oferta de crédito, um fator importante na venda de bens de consumo duráveis como os produzidos na Zona Franca (motocicletas, televisores, celulares e microcomputadores). Mas isso, segundo Machado, ainda não aconteceu.
"Se houver uma redução na oferta de crédito, isso só acontecerá em dois ou três meses", estima ele.
Além disso, Machado acredita que "a demanda do Natal poderá compensar uma possível retração no crédito".
Para Machado, "a menos que haja um desajuste muito grande, o que eu não acredito, não faltará crédito na ponta para o consumidor final", afirmou.
Ele também lembra que o governo sinaliza tomar medidas para irrigar a oferta de crédito para evitar uma redução na atividade econômica.
PREOCUPAÇÃO COM CHINESES
Apesar da aparente tranqüilidade, o que preocupa a indústria instalada em Manaus, na visão de Machado, é que "a produção chinesa vai ter que ser direcionada para algum lugar e o Brasil é naturalmente um candidato".
Segundo o executivo, como a China exporta grande parte de sua produção para Estados Unidos e Europa e esses são mercados que entraram em baixa, "eles vão ter que redirecionar isso".
O coordenador da Suframa defende que o país, nesse caso, "faça uso de mecanismo não-ortodoxos para corrigir possíveis desajustes do mercado".
Ele opina que o governo adote algum tipo de proteção ao produto nacional, diante da iminência da pressão de uma enxurrada de produtos chineses.
ATIVIDADE ECONÔMICA INTENSA
Machado afirmou que as empresas do pólo amazonense "estão acompanhando a crise e analisando todas as medidas com bastante critério, mas enxergam o atual momento com tranqüilidade".
Segundo o coordenador, o pólo tem 8 bilhões de dólares em projetos aprovados neste ano, o que mostra que "há perspectiva de atividade econômica intensa".
No primeiro semestre deste ano, de acordo com os dados da Suframa, a indústria instalada na região faturou 15,05 bilhões de dólares, montante 31,5 por cento superior ao de mesmo período de 2007 e que é maior, por exemplo, que o faturamento de todo o ano 2004.
Machado não teme um prejuízo às exportações porque a maior parte das vendas externas de Manaus é para países da América Latina, e não para Estados Unidos e Europa.
"Os Estados Unidos são hoje o terceiro maior destino das nossas exportações, depois de Argentina e Venezuela", lembra ele.
Além disso, os Estados Unidos país norte-americana já representou uma fatia importante das vendas externas, mas ela é hoje "de algo como 16 ou 17 por cento" da receita de exportações, afirmou.

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