segunda-feira, 1 de junho de 2009
Leitor eletrônico rival do Kindle é inspirado no iPod
David Pogue
Muitas vezes na vida, a realidade não confirma o marketing; todo mundo termina apanhado pelas exceções em letrinhas miúdas. Os panfletos de complexos de turismo mostram praias e piscinas reluzentes, bem iluminadas e vazias. Os trailers de cinema conseguem extrair 45 segundos de risadas até mesmo dos piores fiascos. E quanto aos perfis em sites de encontros - bem, vocês sabem.
Da mesma maneira, quando se lê uma descrição do novo leitor eletrônico Cool-er, da companhia britânica Interead, a atenção é despertada. O aparelho vendido por US$ 250 supostamente faz tudo que o Amazon Kindle faz, e é menor, mais leve, mais fino e US$ 110 mais barato.
O Cool-er dispõe de memória suficiente para 700 livros, mas vem com uma porta para cartão de memória capaz de acomodar mais 2,8 mil títulos, o que mais ou menos deve bastar para sua próxima viagem aérea.
Ao contrário do atual Kindle, o Cool-er tem uma bateria removível. A empresa diz que em breve colocará baterias adicionais à venda ao preço de US$ 5. E uma bateria basta para ler oito mil páginas, o que representa capacidade superior à do Kindle ou à do Sony Reader.
(Sim, é estranho medir a capacidade da bateria pelo número de páginas viradas, mas a tecnologia E Ink tem dessas coisas. As notáveis telas da empresa, utilizadas no Kindle, Sony Reader e Cool-er, parecem quase exatamente com tinta impressa sobre o papel. São espetacularmente legíveis, desde que haja luz suficiente, porque não oferecem iluminação interna. E a E Ink não gasta energia enquanto uma página está em uso; os pontos de tinta ficam "congelados" no lugar até que você "vire a página", e é esse o único momento em que o aparelho gasta muita energia.)
O Cool-er também oferece uma loja online própria, que tem 275 mil títulos à venda. De acordo com a Interead, eles são anunciados como menos dispendiosos do que os livros vendidos pela Amazon ou pela Sony para seus leitores eletrônicos.
Acima de tudo, os livros do Cool-er contam com proteções bem menos severas do que as adotadas pela Amazon e Sony. Para começar, é possível lê-los em um computador pessoal. De acordo com a Interead, antes do final deste ano será possível vender livros que você tenha escrito na Coolerbooks.com, e o autor fica com 50% da receita.
E, o mais interessante, é que você pode "emprestar" um livro comprado da Cool-er a quatro outras pessoas - por exemplo, parentes, amigos ou o seu grupo de leitura.
É uma vantagem muito importante, porque representa um passo na direção de corrigir o último dos grandes problemas que restam para os leitores eletrônicos: não há como passar para frente os livros comprados. No Kindle, por exemplo, não se pode dar, emprestar, vender ou nem mesmo doar um livro a uma biblioteca.
O Cool-er, que tem comprimento de 18 centímetros e largura de 11,5 centímetros, com pouco mais de um centímetro espessura, é de fato menor que o Kindle original, em cerca de 2,5 centímetros em cada dimensão, e bem mais leve e fino do que o Sony Reader. Na verdade, caberia em um bolso interno de paletó, o que pode ser muito conveniente.
Mas assim que o usuário tem o aparelho nas mãos, as letrinhas miúdas começam a atingi-lo com a força de um martelo pneumático.
O Cool-er vem em oito cores metálicas que lembram o iPod, mas é feito de plástico. Parece oco, pouco substancioso; o plástico literalmente range quando os botões são premidos, o que não inspira grande confiança. E será que a empresa realmente precisava gravar tantos símbolos de marca registrada no aparelho? Para não falar de seu slogan -"we make reading cool"?
A inspiração oferecida pelo projeto do iPod continua perceptível no controle circular branco, que na verdade não gira e funciona como uma espécie de bússola que se pode apertar nos quatro pontos cardeais. Esse controle, como os botões na borda do aparelho, é rígido e difícil de acionar.
Mesmo que você tenha recebido uma mensagem na tela que confirma que conseguiu acionar o botão de "próxima página", a transição pode demorar diversos segundos. Assim, o leitor passa o tempo incerto quanto a ter ou não conseguido virar a página. Não é o sistema ideal para uma leitura atenta.
Os quatro pequenos botões na borda esquerda não têm identificação, exceto por algumas estranhas e misteriosas ranhuras. O superior abre o "menu multimídia", que só oferece duas opções: executar um arquivo MP3 ou um jogo de sudoku. O segundo gira a imagem da página. O terceiro é o botão de retorno. O mais baixo abre a tela de ajustes.
Não só essa disposição de controles é bizarra - o botão do sudoku deveria realmente estar no alto do aparelho? - como não existe botão de tela inicial. Para chegar à lista completa de livros, é preciso premir o botão de rotação por três segundos. (E por que o botão de rotação e não o de retorno?)
Há oito tamanhos de fonte à escolha. Infelizmente, mudar um tamanho de fonte requer -não estou brincando - 16 comandos, cada um dos quais necessita de muque considerável.
Tenha em mente, além disso, que os Cool-ers não dispõem de muitos dos pequenos confortos que fazem com que o Kindle pareça tão completo. O maior deles, claro, é a conexão de celular que permite baixar livros para o aparelho sem fio. O Cool-er requer que você compre livros com seu computador e depois os transfira ao leitor por meio de uma conexão USB. Para isso, é necessário um programa gratuito chamado Adobe Digital Editions que administra os livros protegidos contra cópia. Instalar e aprender como usar o programa é problema do usuário.
É possível transferir arquivos em .PDF ou de texto ao aparelho dessa maneira, mas o processo não é garantido. Alguns de meus arquivos em .PDF não abriram. Um deles travou a máquina. Os demais muitas vezes aparecem com fontes tão pequenas que seria preciso ler com um microscópio - e não, essa fonte não pode ser alterada.
O Cool-er tampouco lê livros em voz alta para o usuário. Não faz uma cópia de segurança automática do livro. Não executa audiobooks. Não traz um dicionário integrado. Por não ter teclado, não permite que você faça anotações ou faça buscas nos textos. Todos esses recursos são padrão no Kindle.
E a loja do Cool-er também é complicada. A empresa diz que em breve assinará um acordo com um grande distribuidor que elevará seu catálogo a 750 mil títulos, três vezes mais que a Amazon. Seria bom, porque no momento o catálogo tem mais buracos que produtos.
Meu conselho é que você não compre esse esforço inicial, mas que fique atento aos sucessores. Os ideais que inspiraram o Cool-er são importantes e válidos, especialmente a possibilidade de emprestar livros e publicar escritos próprios.
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário