A Câmara dos Deputados aprovou, esta semana, projeto de lei que cria uma estatal dedicada à fabricação de semicondutores no Brasil.
O projeto transforma a sociedade civil Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada), com sede em Porto Alegre, numa empresa pública.
Segundo o presidente da Ceitec, Sérgio Dias, a fábrica para produzir semicondutores no Brasil já está quase pronta e será a primeira da América Latina a fabricar este tipo de produto.
“Este projeto já recebeu investimentos de R$ 260 milhões, a maior parte deles do ministério da Ciência e Tecnologia. Os recursos nos permitiram construir uma fábrica com câmara limpa e treinar pessoal para, pela primeira vez no país, produzir circuitos integrados e chips”, diz Sérgio Dias. O projeto da fábrica e a construção da câmara limpa foi elaborado por uma companhia alemã, contratada pela Ceitec.
Segundo o executivo, a fábrica deve entrar em operação até junho de 2009 produzindo chips para monitoramento de gado e, possivelmente, circuitos para conversores de TV digital.
“Com a transformação da Ceitec em empresa pública, vamos ter maior facilidade de firmar parcerias e obter recursos de organismos como Finep, CNPq e BNDES”, diz Sérgio.
A fábrica estatal de semicondutores faz parte da política industrial do governo Federal de criar um ambiente propício à atração de indústrias privadas para produzir chips no país.
“Atualmente nossa indústria de eletrônicos é integradora. Importa os componentes e monta os produtos localmente. Com esta iniciativa, vamos procurar os fabricantes nacionais e dizer que eles podem encomendar seus chips diretamente da empresa nacional. Nossa idéia é desenvolver projetos em parceria com a iniciativa privada e tornar a Ceitec autônoma e lucrativa em até três anos”, diz Sérgio.
Recentemente, empresas como AMD e Toshiba demonstraram restrições para investir numa fábrica brasileira de semicondutores. O presidente mundial da AMD, Hector Ruiz, chegou a afirmar, em visita ao Brasil, que não há país na América Latina com infra-estrutura para abrigar uma fábrica do tipo.
Já a Toshiba foi apontada, na época da escolha do padrão japonês de TV digital, como uma potencial investidora no Brasil. A idéia era que, em contrapartida à escolha brasileira, uma empresa japonesa construísse uma fábrica do tipo no país. As negociações, no entanto, não avançaram.
“Já conversei com representantes de grandes empresas como AMD, Toshiba e FreeScale (divisão de semicondutores do grupo Motorola) e os argumentos que eles apresentam para não produzir chips no Brasil passam pela falta de profissionais qualificados e ausência de um ambiente favorável a investimentos”, diz Sérgio.
Ao criar uma fábrica nacional e treinar mão de obra, a Ceitec acredita que cria um ambiente mais favorável para atração de novos investimentos. “Estamos repatriando profissionais muito qualificados que fazem mestrado e doutorado no Brasil, mas vão para o exterior trabalhar. Vamos agora treinar profissionais de nível médio para trabalhar em sala lima, enfim, abrir este caminho”, diz o presidente da Ceitec.
A criação da empresa pública ainda deverá ser submetida à aprovação no Senado e sanção pela presidência da República.
Felipe Zmoginski, do Plantão INFO
quarta-feira, 28 de maio de 2008
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